O telefone ainda é aqueles de disco que você tem de girar para discar os número. Acho que é dai que vem a expressão discar. O bocal do telefone esta encardido, da para ver a sujeira acumulada nos buraquinhos. No entanto, não sinto vontade de limpar.
Da minha carteira de couro marrom, uma hipocrisia para um vegetariano, que também serve de agenda, eu tiro um papel amassado com um telefone, assim como já fiz inúmeras vezes antes. Giro o disco do telefone e espero que ele volte a posição inicial para poder gira-lo novamente, e faço isso mais sete vezes. Deve ser o suficiente. Espero os toques necessários até que alguém atenda, mas minha paciência acaba e eu ponho o fone no gancho.
Na rádio toca Eleanor Rigby e enquanto os violinos tocam estridentemente eu me pergunto de onde vem tantos solitários, a aonde eles pertencem. Tiro o telefone do gancho e faço todo o ritual novamente. Parece algo eterno. Desta vez vou esperar dar cinco toques e esse é o máximo que eu me digno a esperar. Não mais do que isso. No terceiro atendem.
A voz é de um homem e eu logo penso em alguém barbudo, barba e cabelo já brancos. Deveria me sentir ameaçado ? Apesar de não conhece-lo sei quem é, sei que suas intenções são boas mas não para mim. Ele me odeia, eu sei disso. O telefone deveria unir o mundo mas agora, aquele homem é uma barreira que me impede de conversar com ela. Eu desligo.
É outono e lá fora faz frio. O sol ilumina pela janela e me aquece. Estou sentado no pé da cama com o telefone à minha frente, no corpo apenas calças e uma regata. Eu deveria sair, dar uma volta. O apartamento me cansa, fazem cinco dias que não saio. Os restos de maçã se acumulam na pia da cozinha junto com as cascas de banana. No entanto, não sinto vontade de limpar. Uma hora ou outra eu vou ter de sair. O estoque de frutas esta acabando e comer miojo é algo que jurei nunca mais fazer.
Minhas intenções também são boas, por que eu tenho de ter medo ? Pego o telefone mais uma vez e agora vou buscar no fundo da minha alma a coragem de ir até o final. Toca uma vez, na segundo ele atende. Ouço o bocal do telefone roçar em sua barba. Não sei como mas consegui juntar forças e pedir para falar com ela. Ele não deve ter percebido quem era pois disse "Só um instante" e se foi. Nada do que temer.
Enquanto esperava fiquei pensando em quando era criança. De passear na Rua XV com meus pais me balançando pelo braço, de como aquilo era a coisa mais esperada da semana. Agora não posso mais brincar disso. Nunca mais poderei. Talvez algum dia venha a balançar alguém. Uma pessoa a quem eu possa chamar de filho.
Nós nos conhecemos alguns anos atrás mas foi só nos últimos meses que a relação ficou mais intensa. Foi no Natal que trocamos o primeiro beijo e por um bom tempo não nos largamos. Acabou quando ela soube que estava grávida. Minha alegria não podia ser maior. Ela, no entanto, passou a me odiar como se eu tivesse destruído sua vida.
Sua vida se resumia a frequentar a faculdade, ir às aulas de Francês e sair com as amigas. De certa forma destruí sua vida sim. Com seus cinco meses de gravidez ela já abandonou a faculdade, suas amigas a abandonaram e ela agora vive trancada em casa, chorando e sem o consolo de ninguém. Seu pai, se fosse uma pessoa decente e generosa, talvez a consola-se, mas às vezes penso que ele a odeia tanto quanto a mim.
Algun tempo depois de passear pela Rua XV pela última vez, meus pais morreram. Foi algo muito de repente, um acidente na estrada. Eles íam para Porto Alegre de ônibus e um caminhão vinha de Porto Alegre entregar mercadoria. Meu tio me criou desde então. Quando soube que ela estava grávida dei um sorriso de canto de boca. Era o máximo que eu podia fazer com ela charando daquele jeito. Tentei consolá-la mas ela me rechassou e eu fui para casa sem poder conter minha alegria. No caminho pensei em meus pais e na falta que eles haviam feito até agora, agora que eu seria pai.
A alegria acabou quando ela disse que iria tirar o bebê. Seria mais um caminhão em minha vida. Seu pai a dissuadiu mas ela jurou que eu nunca iria ver a criança. Eu nunca iria ver a criança. Agora eu telefono para ela pela última vez. Cansei de lutar para ser pai. Cansei de tudo. A clausura dela também é a minha. Ligo agora para dizer que ela pode fazer o que quiser, eu já não me importo mais. Nas últimas noite me peguei pensando na alegria que teria se ela morresse no parto. A criança também. Me odiei por pensar dessa forma, mas é a única coisa que consigo dizer para ela quando atendeu o telefone. Não esperei para ouvir a reação dela. Desliguei com a mesma covardia com que liguei. Agora saio de casa sem saber para onde ir, pois não sei de onde vem tantos solitário nem a aonde nós pertencemos.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Diário de uma Hora de um Estagiário
São cinco horas da tarde. Dentro de vinte minutos você vai arrumar suas coisas e se preparar para ir embora. Vai perceber que é sexta-feira e que o escritório já esta quase vazio. O dia esta escurecendo cada vez mais, a leve garoa lá de fora não vai te incomodar. Ao contrário, vai lhe dar mais ânimo. O elevador, como sempre, vai demorar para chegar e você, como sempre vai pensar nos três andares que levam três anos para subir. Você vai dar um sorriso. Por enquanto você é só um estagiário que sonha com esses três andares mas com muito mais coisas. Não se preocupe, você não é um aficcionado. O centro da cidade esta cheio, pessoas por todos os lados que vão esvaziar essas mesmas ruas em meia hora. É o tempo de todos chegarem à suas casas. As luzes brancas e saudosistas da rua XV já estarão acessas e isso vai lhe deixar feliz. É um longo caminho para atravessar todo o calçadão mas você não irá se importar também. Lembre-se que é sexta-feira e amanhã é seu dia de descanço. É hora do rush, e só quem pega ônibus às seis da tarde sabe o que isso significa. Você vai esperar três, quatro ônibus passarem para poder entrar em um. Ele vai vir cheio mas aquela quantidade de pessoa não vai fazer nada além de tornar seu fim de tarde mais aconchegante, mais aquecido e, por alguns pontos de ônibus, você vai esquecer que é inverno. No momento que você chegar ao seu destino, a leve garoa vai ter engrossado e você vai ter de se encolher no casaco, seu corpo vai ter calafrios e será necessário uma leve corrida até a padaria. Comprará cinco pães, um pouco de queijo e apresuntado, se ainda tiver, um saco de leite. Esta será sua janta. Chegando em casa vai lembrar da sensação aconchegante que sentiu dentro do ônibus, lá estará quente, iluminado com luz amarela e não aquela fluorescente dos ônibus. Vai preparar um sanduíche e comer em frente a televisão. Na cama irá pensar nos três andares que lhe faltam. Mas por enquanto falta desligar o computador e se preparar para ir embora. Corra, você esta atrasado.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Coisas que não devem ser feitas
Caso você não saiba esta chovendo. Um dia eu vi a divisa da chuva. De um lado chovia, do outro não. Durou pouco até a chuva tomar conta de tudo, mas eu estava lá, parado na janela, fazendo sagu de uva.
Hoje choveu pedra, caso você não saiba, e ao invés de sagu estou escrevendo. Devia estar fazendo um dos vários trabalhos de faculdade pendentes mas esta chovendo e como diz o ditado, "não faça trabalho enquanto chove".
Se a chuva, voltando para terra trás mesmo as coisas do ar, eu também tenho medo da chuva. Medo que ela traga aquilo que propositadamento foi deixado no ar e a ele pertence. Coisas que não foram ditas, que não foram feitas. Essas são as perigosas. Fuja delas!
Se você quer um exemplo de como as coisas não feitas tem um impacto grande, vou contar a história de um amigo meu, o Carlos. O Carlos é uma figura, gente boa como só ele. Nos seus dezenove anos de vida ele já fez de tudo. Estudou até terminar o segundo grau e começou uma faculdade com 17. Conseguiu faz pouco tempo um estágio bacana e isso é tudo que fez. Mas que figura esse Carlos.
Acontece que um dia desses um amigo dele passou num dos últimos vestibulares da história e foi comemorar em um puteiro. Convidou vários amigos e pagou para todos. Claro que só pagou a entrada, o resto ficava a cargo de cada um. Uma das características desse meu amigo que fez de tudo era ver a beleza na sua forma mais bruta, as vezes até onde não existia.
Mas naquela garota da vida, magrinha, loira e pálida, que destoava das outras por não ter formas exuberantes, era fácil ver que existia uma beleza em algum lugar escondido entre sua timidez e sua delicadeza. Quem visse aquela moça em um outro lugar falaria que ela tinha pudores, mas com apenas uma cinta-liga e uma calcinha mínima de renda, com os seios também mínimos a mostra, andando entre um monte de homens com suas ereções, ela não passava de uma puta qualquer.
E foi por ela que Carlos se encantou. Não o culpo. A garota era mesmo encantadora. Nós temos mesmo um gosto semelhante por mulher e se ele não tivesse grudado nela na hora que chegou, eu teria grudado nela.
Ele pagou uma dose de whisky vagabundo pelo preço de um de cem anos e foi o suficiente para fazer ela não sair de perto dele. Ele falou por dez minutos a cerca dele e de sua vida e foi o suficiente para ela se apaixonar por ele. Mas que sorte! Dizem que as garotas fáceis se apaixonam facilmente pelos seus clientes. E geralmente os clientes não são nenhum modelo de pessoa para se apaixonar. Exceto o Carlos. Aquele é uma figura, das raras.
Na terceira dose ele levou ela para o quarto. E não como uma prostituta mas como uma amante. Pois desde a segunda taça de champagne ele já amava ela também. E o que ele devia fazer ? Tratar ela como uma qualquer, fazer carícias, recebe-las, dar vazão ao seu lado animal e ejacular dentro daquela que amava ? Ele não podia fazer aquilo. Ela não merecia, nem ele. E está aqui as coisas que ficam de lado, as coisas que não são feitas e que ficam no ar onde elas pertencem.
Por mais impossível e clichê que pareça eles dormiram abraçados, de "conchinha". Fizeram amor enquanto dormiam e era aquilo que ambos precisavam.
A hora passou, o dinheiro acabou e foi hora das despedidas. Mas até quando ? Será que ele devia voltar como um cliente ou como um amigo, como um amante ? Será que valeria a pena os risco, o ciúme dela ser dele e de vários ao mesmo tempo, em curtos espaços de tempo ?
Esta era uma resposta que perdurou durante um tempo. Júlia, esse era o nome dela, anotou seu telefone em um papel, mas ele demorou para ligar. Perdera o sono, o apetite, a sanidade. Mas porque tudo aquilo ? Será que era pela luxúria, será que era desejo em seu estado mais carnal ? Ou era o fetiche, o sonho de dar uma vida mais respeitável para aquela que não teve chances e todas essas lenga-lengas de ajudar o próximo ?
No dia que ele ligou tinha chego a conclusão que era um misto dos dois. Marcaram um encontro fora da casa de shows. Vestida, ela parecia uma pessoa normal. Passaria facilmente despercebida entre a multidão. Conversaram durante horas, cada um falou de sua vida mais a fundo e em três horas de encontro, esse gratuíto, ficaram amigos, nada mais que isso. O desejo de ambos acabou. A pena que ele sentia dela se esvaiu. Não havia nada nela que desse pena. Era uma moça comum com uma profissão incomum.
Se conversam até hoje, são íntimos como amigo. Cogitaram algumas vezes terem relações mas não foram adiante. Essas coisas que ficam no ar, as que eu tenho medo (Carlos também tem, ele me contou) nem sempre são ruins. Mas enquanto elas continuam no ar. Que essa maldita chuva de granizo que parece que vai destelhar a casa não as traga de volta.
Hoje choveu pedra, caso você não saiba, e ao invés de sagu estou escrevendo. Devia estar fazendo um dos vários trabalhos de faculdade pendentes mas esta chovendo e como diz o ditado, "não faça trabalho enquanto chove".
Se a chuva, voltando para terra trás mesmo as coisas do ar, eu também tenho medo da chuva. Medo que ela traga aquilo que propositadamento foi deixado no ar e a ele pertence. Coisas que não foram ditas, que não foram feitas. Essas são as perigosas. Fuja delas!
Se você quer um exemplo de como as coisas não feitas tem um impacto grande, vou contar a história de um amigo meu, o Carlos. O Carlos é uma figura, gente boa como só ele. Nos seus dezenove anos de vida ele já fez de tudo. Estudou até terminar o segundo grau e começou uma faculdade com 17. Conseguiu faz pouco tempo um estágio bacana e isso é tudo que fez. Mas que figura esse Carlos.
Acontece que um dia desses um amigo dele passou num dos últimos vestibulares da história e foi comemorar em um puteiro. Convidou vários amigos e pagou para todos. Claro que só pagou a entrada, o resto ficava a cargo de cada um. Uma das características desse meu amigo que fez de tudo era ver a beleza na sua forma mais bruta, as vezes até onde não existia.
Mas naquela garota da vida, magrinha, loira e pálida, que destoava das outras por não ter formas exuberantes, era fácil ver que existia uma beleza em algum lugar escondido entre sua timidez e sua delicadeza. Quem visse aquela moça em um outro lugar falaria que ela tinha pudores, mas com apenas uma cinta-liga e uma calcinha mínima de renda, com os seios também mínimos a mostra, andando entre um monte de homens com suas ereções, ela não passava de uma puta qualquer.
E foi por ela que Carlos se encantou. Não o culpo. A garota era mesmo encantadora. Nós temos mesmo um gosto semelhante por mulher e se ele não tivesse grudado nela na hora que chegou, eu teria grudado nela.
Ele pagou uma dose de whisky vagabundo pelo preço de um de cem anos e foi o suficiente para fazer ela não sair de perto dele. Ele falou por dez minutos a cerca dele e de sua vida e foi o suficiente para ela se apaixonar por ele. Mas que sorte! Dizem que as garotas fáceis se apaixonam facilmente pelos seus clientes. E geralmente os clientes não são nenhum modelo de pessoa para se apaixonar. Exceto o Carlos. Aquele é uma figura, das raras.
Na terceira dose ele levou ela para o quarto. E não como uma prostituta mas como uma amante. Pois desde a segunda taça de champagne ele já amava ela também. E o que ele devia fazer ? Tratar ela como uma qualquer, fazer carícias, recebe-las, dar vazão ao seu lado animal e ejacular dentro daquela que amava ? Ele não podia fazer aquilo. Ela não merecia, nem ele. E está aqui as coisas que ficam de lado, as coisas que não são feitas e que ficam no ar onde elas pertencem.
Por mais impossível e clichê que pareça eles dormiram abraçados, de "conchinha". Fizeram amor enquanto dormiam e era aquilo que ambos precisavam.
A hora passou, o dinheiro acabou e foi hora das despedidas. Mas até quando ? Será que ele devia voltar como um cliente ou como um amigo, como um amante ? Será que valeria a pena os risco, o ciúme dela ser dele e de vários ao mesmo tempo, em curtos espaços de tempo ?
Esta era uma resposta que perdurou durante um tempo. Júlia, esse era o nome dela, anotou seu telefone em um papel, mas ele demorou para ligar. Perdera o sono, o apetite, a sanidade. Mas porque tudo aquilo ? Será que era pela luxúria, será que era desejo em seu estado mais carnal ? Ou era o fetiche, o sonho de dar uma vida mais respeitável para aquela que não teve chances e todas essas lenga-lengas de ajudar o próximo ?
No dia que ele ligou tinha chego a conclusão que era um misto dos dois. Marcaram um encontro fora da casa de shows. Vestida, ela parecia uma pessoa normal. Passaria facilmente despercebida entre a multidão. Conversaram durante horas, cada um falou de sua vida mais a fundo e em três horas de encontro, esse gratuíto, ficaram amigos, nada mais que isso. O desejo de ambos acabou. A pena que ele sentia dela se esvaiu. Não havia nada nela que desse pena. Era uma moça comum com uma profissão incomum.
Se conversam até hoje, são íntimos como amigo. Cogitaram algumas vezes terem relações mas não foram adiante. Essas coisas que ficam no ar, as que eu tenho medo (Carlos também tem, ele me contou) nem sempre são ruins. Mas enquanto elas continuam no ar. Que essa maldita chuva de granizo que parece que vai destelhar a casa não as traga de volta.
De Kurt à Avril (rascunho)
Já passei da idade de ouvir Avril Lavigne e colocar brinco. Tenho 25, quase 26 anos. No entanto estou com um brinco na orelha, um pequeno alargador esta a caminho e hoje me surpreendi ouvindo Avril pela internet. A Barbara Lovelock tem razão, quinze anos passaram e nos estamos ficando uns puta velhos. E ela tem a vantagem de ser mais nova. E esse negócio de envelhecer me assusta. Eu tenho só 25, quase 26 anos mais tenho medo de deixar a adolescência. Ou melhor, talvez eu esteja enganado, estou chegando na adolescência tarde demais. Fui criança por muito tempo, não aproveitei os namoricos, os excessos, os erros da idade teen. Sou um jovem incompleto, inacabado. Não aprendi o que devia ter aprendido e agora tenho de me virar.
Talvez por isso eu esteja estúpido, perdido na vida, sem um norte certo, que fica sacaneando as pessoas por não saber fazer melhor. Eu nunca fui o popular, o nerd, o atleta, o músico, o artista. Eu não sei o que fui e isso dificulta saber quem eu sou. Não sou!
E isso pode ter suas vantagens. Não que eu saiba quais. Talvez eu seja uma página a ser escrita. Posso colocar o que tem de melhor, ser criativo e generoso comigo. Posso ser o Picasso da minha vida. Sou um puta velho ainda jovem e isso, por incrível que pareça, pode ser uma coisa boa.
Talvez por isso eu esteja estúpido, perdido na vida, sem um norte certo, que fica sacaneando as pessoas por não saber fazer melhor. Eu nunca fui o popular, o nerd, o atleta, o músico, o artista. Eu não sei o que fui e isso dificulta saber quem eu sou. Não sou!
E isso pode ter suas vantagens. Não que eu saiba quais. Talvez eu seja uma página a ser escrita. Posso colocar o que tem de melhor, ser criativo e generoso comigo. Posso ser o Picasso da minha vida. Sou um puta velho ainda jovem e isso, por incrível que pareça, pode ser uma coisa boa.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Kurt e minhas Lembranças
Coloquei para ouvir o acústico do Nirvana na Internet. O CD eu perdi a algum tempo atrás, mas com a Internet nem faz mais falta. Você deve estar pensando que já que eu estou ouvindo Nirvana vou escrever algo sobre morte. Mas não. Nem sei se vou escrever algo. Me perdi um pouco nas lembranças.
Eu costumava ouvir nirvana na adolescência e tenho boas lembranças da adolescência. Lembro de um churrasco em que eu ainda comia carne e bebia. Uma pena alguém ter esquecido a carne no freezer e nos comemos uma carne meio congelada. Mas ouvimos muito o Nevermind e eu até acho que dancei um pouco feito um grunge louco quando estava bêbado.
Semana passada eu fui a um churrasco com uma turma que nem é a minha. Um pessoal super legal, animados, mas que teimavam em ouvir esse sertanejo pop atual ou funk. Que falta você faz, Kurt.
Mas quando penso em Nirvana também lembro de uma menina da sétima série. Eu era um cara fechado e tímido. Era feliz, mas fechado e tímido. E quando você é um adolescente, cheio de espinhas, feio, fechado e tímido, você sempre encontra alguém na sua classe para ser seu modelo, seu exemplo. E tinha essa menina super descolada que entendia tudo de música. Tudo bem, talvez ela só conhecesse um pouco de música, mas para um rapaz como eu, que só conhecia The Doors e umas porcarias de MTV, aquilo era o máximo. E essa menina vivia indo para o colégio com uma ou outra camisa do Nirvana, falava do quanto o Kurt fazia falta na vida dela e do quanto sua carta de suicídio significava para ela. Talvez além de fechado e tímido eu fosse um pouco tapado porque aquela menina significava um monte para mim, com suas camisas do Nirvana e uma carta de suicídio na mão.
Essa menina me lembra de outra menina que não conheci, talvez porque não existiu. É uma personagem de um livro do Hornby que era louca pelo Kurt Cobain. Tem um guri no livro que idolatra ela (como eu idolatrava minha amiga) e que tenta esconder ao máximo a morte do Kurt. Só que ele não consegue, ela já sabia de tudo e saiu quebrando a vidraça de uma loja de CD´s que estava, aparentemente, usando da imagem dele para se promover.
O que me chateia é que na época dessas lembranças eu lembro que se falava em quatro, cinco anos sem Kurt Cobain. Hoje fazem quinze que ele se matou. Quem morreu também foram minhas lembranças. Os amigos de uma época que me marcou mais pela falta do que pelo excesso delas. Só restam algumas imagens perdidas em uma trilha sonora grunge.
Eu costumava ouvir nirvana na adolescência e tenho boas lembranças da adolescência. Lembro de um churrasco em que eu ainda comia carne e bebia. Uma pena alguém ter esquecido a carne no freezer e nos comemos uma carne meio congelada. Mas ouvimos muito o Nevermind e eu até acho que dancei um pouco feito um grunge louco quando estava bêbado.
Semana passada eu fui a um churrasco com uma turma que nem é a minha. Um pessoal super legal, animados, mas que teimavam em ouvir esse sertanejo pop atual ou funk. Que falta você faz, Kurt.
Mas quando penso em Nirvana também lembro de uma menina da sétima série. Eu era um cara fechado e tímido. Era feliz, mas fechado e tímido. E quando você é um adolescente, cheio de espinhas, feio, fechado e tímido, você sempre encontra alguém na sua classe para ser seu modelo, seu exemplo. E tinha essa menina super descolada que entendia tudo de música. Tudo bem, talvez ela só conhecesse um pouco de música, mas para um rapaz como eu, que só conhecia The Doors e umas porcarias de MTV, aquilo era o máximo. E essa menina vivia indo para o colégio com uma ou outra camisa do Nirvana, falava do quanto o Kurt fazia falta na vida dela e do quanto sua carta de suicídio significava para ela. Talvez além de fechado e tímido eu fosse um pouco tapado porque aquela menina significava um monte para mim, com suas camisas do Nirvana e uma carta de suicídio na mão.
Essa menina me lembra de outra menina que não conheci, talvez porque não existiu. É uma personagem de um livro do Hornby que era louca pelo Kurt Cobain. Tem um guri no livro que idolatra ela (como eu idolatrava minha amiga) e que tenta esconder ao máximo a morte do Kurt. Só que ele não consegue, ela já sabia de tudo e saiu quebrando a vidraça de uma loja de CD´s que estava, aparentemente, usando da imagem dele para se promover.
O que me chateia é que na época dessas lembranças eu lembro que se falava em quatro, cinco anos sem Kurt Cobain. Hoje fazem quinze que ele se matou. Quem morreu também foram minhas lembranças. Os amigos de uma época que me marcou mais pela falta do que pelo excesso delas. Só restam algumas imagens perdidas em uma trilha sonora grunge.
terça-feira, 31 de março de 2009
Apenas amigos
Ela estava parada na grade do mezanino, vendo a banda que tocava lá em baixo só para ela. Uma garrafa de água na mão, milhões de pensamentos na mente e só um sentimento: o de pura alegria.
Ele vinha atravessando o salão, uma lata de coca em cada mão. Quando chegou perto parou um pouco e pensou se aquilo estava realmente acontecendo. Fazia oque ? Dois anos ? Mas valeu esperar. Sorriu um sorriso delicado e foi em sua direção. Abraçou ela pelas costas, sua barba rala roçando em seu pescoço e o sentimento de paz enquanto ela apertava seu braço e virava para beijar seus lábios.
A banda começou a tocar uma do Pink Floyd. Os namorados na pista, aqueles que so estavam por aquela noite, dançavam e cantavam com entusiasmo. Os dois lá em cima, só mexiam os corpos, os olhos fechado, a mente em outro lugar. Em um lugar onde só estavam os dois. Onde os dois eram só o que havia.
Nesses dois anos ele não esperava de verdade que aquilo iria acontecer. Nem mesmo escrevia a respeito em seu blog, ou conversava com seus amigos. Por isso muitos deles estranharam quando no canto da mesa os dois deram o primeiro beijo, delicado, curto. Alguns pensaram em dizer alguma coisa, mas estavam atônitos. Não esperavam aquilo dos dois. Nem eles esperavam. Gentis, todos deixaram a mesa aos poucos, não que importasse. Os dois estavam totalmente perdidos neles mesmos. Da mesa foram para o mezanino e de lá so se desgrudavam para ir pegar algo para beber (ele) ou para retocar a maquiagem (ela).
Quando aquela noite acabou, ela pensava, com a cabeça deitada no travesseiro, tentando dar um significado para aquilo, tentar rever como tudo aquilo aconteceu. Ele, sentado na sua poltrona favorita pensava em como seria o dia seguinte. Deveria ligar ? Ou deveria esperar segunda feira e esperar a reação dela? Teria sido um equívoco ? Ele estava assustado. Ela, no entanto, não se preocupava com o dia seguinte. Queria curtir o resto daquela sensação de ecstase, aquela alegria maior que ela, como ele poderia estar aqui comigo...
Ele vinha atravessando o salão, uma lata de coca em cada mão. Quando chegou perto parou um pouco e pensou se aquilo estava realmente acontecendo. Fazia oque ? Dois anos ? Mas valeu esperar. Sorriu um sorriso delicado e foi em sua direção. Abraçou ela pelas costas, sua barba rala roçando em seu pescoço e o sentimento de paz enquanto ela apertava seu braço e virava para beijar seus lábios.
A banda começou a tocar uma do Pink Floyd. Os namorados na pista, aqueles que so estavam por aquela noite, dançavam e cantavam com entusiasmo. Os dois lá em cima, só mexiam os corpos, os olhos fechado, a mente em outro lugar. Em um lugar onde só estavam os dois. Onde os dois eram só o que havia.
Nesses dois anos ele não esperava de verdade que aquilo iria acontecer. Nem mesmo escrevia a respeito em seu blog, ou conversava com seus amigos. Por isso muitos deles estranharam quando no canto da mesa os dois deram o primeiro beijo, delicado, curto. Alguns pensaram em dizer alguma coisa, mas estavam atônitos. Não esperavam aquilo dos dois. Nem eles esperavam. Gentis, todos deixaram a mesa aos poucos, não que importasse. Os dois estavam totalmente perdidos neles mesmos. Da mesa foram para o mezanino e de lá so se desgrudavam para ir pegar algo para beber (ele) ou para retocar a maquiagem (ela).
Quando aquela noite acabou, ela pensava, com a cabeça deitada no travesseiro, tentando dar um significado para aquilo, tentar rever como tudo aquilo aconteceu. Ele, sentado na sua poltrona favorita pensava em como seria o dia seguinte. Deveria ligar ? Ou deveria esperar segunda feira e esperar a reação dela? Teria sido um equívoco ? Ele estava assustado. Ela, no entanto, não se preocupava com o dia seguinte. Queria curtir o resto daquela sensação de ecstase, aquela alegria maior que ela, como ele poderia estar aqui comigo...
segunda-feira, 30 de março de 2009
Ilha da Magia
Carlos estava miserável, não sabia o que fazer. Como fugir daquele dia ? Não era da solidão que lhe apertava o peito (com essa já se acostumara), nem um compromisso angustiante nem nada que pudesse simplesmente jogar para outro dia ou cancelar por completo. Ele queria fugir daquele dia, daquele sol de inverno, daquele frio de inverno e, principalmente, daquele céu azul sem nuvens típico do maldito inferno.
Na infância aquele tipo de dia já lhe massacrava e, para fugir, ele se trancava no quarto e se fixava na tela do computador durante horas até que a noite se apoderava do céu e seu peito ardia menos, com mais calma.
Eram onze horas da manhã. O dia estava começando. Os dias de fulga ficaram, ou deveriam ter ficado, para trás. Uma tarde trancado em sua kitchinet, com a coberta cobrindo a janela para não deixar nem uma luz do sol entrar, passando frio e sem nem mesmo um computador para se distrair, com certeza era uma receita para a desgraça. E desde aquele dia em que deixara seu lar, jurara para si mesmo que não pensaria mas nequele tipo de coisa, pois, desta vez, não haveria quem o impedisse.
Carlos deixou sua casa, sua família, boa parte de sua vida, e veio para a ilha da magia. Estava cansado de magoar os que ele amava, de magoar e enganar a si mesmo. Então, largou o emprego, trancou a faculdade e, com seu último salário, veio para Florianópolis se "esconder". O sofrimento da família foi terrível. Eles achavam, ou melhor, eles tem certeza, de que ele seria melhor cuidado em Curitiba, junto deles. Mas Carlos estava irredutível. Nada o faria mudar de idéia. Ver seus pais e seu irmão chorarem por sua causa mais uma vez seria demais para ele. Ele poderia aguentar tudo: solidão, ansiedade, angústia, mas aquele olhar de você-nos-magoou-novamente seria demais.
Florianópolis foi a segunda opção. A primeira foi a morte, mas ele era um covarde, do que viria a se orgulhar quando tudo passasse um dia. Porque ele tinha plena consciência de que passaria.
Em sua nova casa não havia nenhum atrativo. Sem televisão (sorte ?), sem seus livros que um dia iria buscar, sem nem mesmo uma cama, somente um colchão velho jogado no chão. Mas ele não se importava. passava o tempo que tinha procurando emprego em qualquer lugar e quando tudo fechava ia para a Beira Mar andar, sentir o cheiro do mar e deixar que a brisa agradável da baia secassem suas lágrimas. Como podia alguém ser tão preso as suas origens ? Faziam dois meses já, e as lágrima continuavam a brotar de sua face com as menores das lembranças. Talvez uma dose de alguma coisa ajudasse, mas o medo de se meter em confusão em um lugar tão distante de casa o impedia. Mas sua casa estava ali, a algumas quadras, como poderia estar distante ?
O tempo passou. Carlos aprendeu coisas que somente a distância da vida permitem. Conseguiu um emprego, que comemorou tomando uma taça de vinho branco com pizza. Não era nada especial: um emprego de seis horas em uma loja no centro, perto de sua casa (?) e com um salário razoável. Durou no emprego seis meses. Foi o suficiente. Depois daquela última noite percebeu o que realmente lhe era importante.
Uma senhora entrou na loja com a neta ( devia ter oque ? vinte, vinte dois anos ?) para comprar um livro para dar de presente. Tinha tantos, mas Carlos se viu escolhendo Cem Anos de Solidão. Era um dos primeiros livros "cabeça" que ele havia lido. Sua família inteira havia lido. Até seu pai, mesmo não tendo gostado, leu inteiro, com letra pequena e tudo.
Carlos sentia falta daquilo, desse negócio de família. Florianópolis era ótimo, morar lá, sozinho, tinha seus prós e contras. O pensamento da morte tinha ficado para trás mas o sentimento de perda da família, daquilo que sempre lhe foi uma identidade, continuava.
Despediu-se da senhora com a neta, foi até a gerente e anunciou: estou indo para casa.
Na infância aquele tipo de dia já lhe massacrava e, para fugir, ele se trancava no quarto e se fixava na tela do computador durante horas até que a noite se apoderava do céu e seu peito ardia menos, com mais calma.
Eram onze horas da manhã. O dia estava começando. Os dias de fulga ficaram, ou deveriam ter ficado, para trás. Uma tarde trancado em sua kitchinet, com a coberta cobrindo a janela para não deixar nem uma luz do sol entrar, passando frio e sem nem mesmo um computador para se distrair, com certeza era uma receita para a desgraça. E desde aquele dia em que deixara seu lar, jurara para si mesmo que não pensaria mas nequele tipo de coisa, pois, desta vez, não haveria quem o impedisse.
Carlos deixou sua casa, sua família, boa parte de sua vida, e veio para a ilha da magia. Estava cansado de magoar os que ele amava, de magoar e enganar a si mesmo. Então, largou o emprego, trancou a faculdade e, com seu último salário, veio para Florianópolis se "esconder". O sofrimento da família foi terrível. Eles achavam, ou melhor, eles tem certeza, de que ele seria melhor cuidado em Curitiba, junto deles. Mas Carlos estava irredutível. Nada o faria mudar de idéia. Ver seus pais e seu irmão chorarem por sua causa mais uma vez seria demais para ele. Ele poderia aguentar tudo: solidão, ansiedade, angústia, mas aquele olhar de você-nos-magoou-novamente seria demais.
Florianópolis foi a segunda opção. A primeira foi a morte, mas ele era um covarde, do que viria a se orgulhar quando tudo passasse um dia. Porque ele tinha plena consciência de que passaria.
Em sua nova casa não havia nenhum atrativo. Sem televisão (sorte ?), sem seus livros que um dia iria buscar, sem nem mesmo uma cama, somente um colchão velho jogado no chão. Mas ele não se importava. passava o tempo que tinha procurando emprego em qualquer lugar e quando tudo fechava ia para a Beira Mar andar, sentir o cheiro do mar e deixar que a brisa agradável da baia secassem suas lágrimas. Como podia alguém ser tão preso as suas origens ? Faziam dois meses já, e as lágrima continuavam a brotar de sua face com as menores das lembranças. Talvez uma dose de alguma coisa ajudasse, mas o medo de se meter em confusão em um lugar tão distante de casa o impedia. Mas sua casa estava ali, a algumas quadras, como poderia estar distante ?
O tempo passou. Carlos aprendeu coisas que somente a distância da vida permitem. Conseguiu um emprego, que comemorou tomando uma taça de vinho branco com pizza. Não era nada especial: um emprego de seis horas em uma loja no centro, perto de sua casa (?) e com um salário razoável. Durou no emprego seis meses. Foi o suficiente. Depois daquela última noite percebeu o que realmente lhe era importante.
Uma senhora entrou na loja com a neta ( devia ter oque ? vinte, vinte dois anos ?) para comprar um livro para dar de presente. Tinha tantos, mas Carlos se viu escolhendo Cem Anos de Solidão. Era um dos primeiros livros "cabeça" que ele havia lido. Sua família inteira havia lido. Até seu pai, mesmo não tendo gostado, leu inteiro, com letra pequena e tudo.
Carlos sentia falta daquilo, desse negócio de família. Florianópolis era ótimo, morar lá, sozinho, tinha seus prós e contras. O pensamento da morte tinha ficado para trás mas o sentimento de perda da família, daquilo que sempre lhe foi uma identidade, continuava.
Despediu-se da senhora com a neta, foi até a gerente e anunciou: estou indo para casa.
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