terça-feira, 31 de março de 2009

Apenas amigos

Ela estava parada na grade do mezanino, vendo a banda que tocava lá em baixo só para ela. Uma garrafa de água na mão, milhões de pensamentos na mente e só um sentimento: o de pura alegria.
Ele vinha atravessando o salão, uma lata de coca em cada mão. Quando chegou perto parou um pouco e pensou se aquilo estava realmente acontecendo. Fazia oque ? Dois anos ? Mas valeu esperar. Sorriu um sorriso delicado e foi em sua direção. Abraçou ela pelas costas, sua barba rala roçando em seu pescoço e o sentimento de paz enquanto ela apertava seu braço e virava para beijar seus lábios.
A banda começou a tocar uma do Pink Floyd. Os namorados na pista, aqueles que so estavam por aquela noite, dançavam e cantavam com entusiasmo. Os dois lá em cima, só mexiam os corpos, os olhos fechado, a mente em outro lugar. Em um lugar onde só estavam os dois. Onde os dois eram só o que havia.
Nesses dois anos ele não esperava de verdade que aquilo iria acontecer. Nem mesmo escrevia a respeito em seu blog, ou conversava com seus amigos. Por isso muitos deles estranharam quando no canto da mesa os dois deram o primeiro beijo, delicado, curto. Alguns pensaram em dizer alguma coisa, mas estavam atônitos. Não esperavam aquilo dos dois. Nem eles esperavam. Gentis, todos deixaram a mesa aos poucos, não que importasse. Os dois estavam totalmente perdidos neles mesmos. Da mesa foram para o mezanino e de lá so se desgrudavam para ir pegar algo para beber (ele) ou para retocar a maquiagem (ela).
Quando aquela noite acabou, ela pensava, com a cabeça deitada no travesseiro, tentando dar um significado para aquilo, tentar rever como tudo aquilo aconteceu. Ele, sentado na sua poltrona favorita pensava em como seria o dia seguinte. Deveria ligar ? Ou deveria esperar segunda feira e esperar a reação dela? Teria sido um equívoco ? Ele estava assustado. Ela, no entanto, não se preocupava com o dia seguinte. Queria curtir o resto daquela sensação de ecstase, aquela alegria maior que ela, como ele poderia estar aqui comigo...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Ilha da Magia

Carlos estava miserável, não sabia o que fazer. Como fugir daquele dia ? Não era da solidão que lhe apertava o peito (com essa já se acostumara), nem um compromisso angustiante nem nada que pudesse simplesmente jogar para outro dia ou cancelar por completo. Ele queria fugir daquele dia, daquele sol de inverno, daquele frio de inverno e, principalmente, daquele céu azul sem nuvens típico do maldito inferno.
Na infância aquele tipo de dia já lhe massacrava e, para fugir, ele se trancava no quarto e se fixava na tela do computador durante horas até que a noite se apoderava do céu e seu peito ardia menos, com mais calma.
Eram onze horas da manhã. O dia estava começando. Os dias de fulga ficaram, ou deveriam ter ficado, para trás. Uma tarde trancado em sua kitchinet, com a coberta cobrindo a janela para não deixar nem uma luz do sol entrar, passando frio e sem nem mesmo um computador para se distrair, com certeza era uma receita para a desgraça. E desde aquele dia em que deixara seu lar, jurara para si mesmo que não pensaria mas nequele tipo de coisa, pois, desta vez, não haveria quem o impedisse.
Carlos deixou sua casa, sua família, boa parte de sua vida, e veio para a ilha da magia. Estava cansado de magoar os que ele amava, de magoar e enganar a si mesmo. Então, largou o emprego, trancou a faculdade e, com seu último salário, veio para Florianópolis se "esconder". O sofrimento da família foi terrível. Eles achavam, ou melhor, eles tem certeza, de que ele seria melhor cuidado em Curitiba, junto deles. Mas Carlos estava irredutível. Nada o faria mudar de idéia. Ver seus pais e seu irmão chorarem por sua causa mais uma vez seria demais para ele. Ele poderia aguentar tudo: solidão, ansiedade, angústia, mas aquele olhar de você-nos-magoou-novamente seria demais.
Florianópolis foi a segunda opção. A primeira foi a morte, mas ele era um covarde, do que viria a se orgulhar quando tudo passasse um dia. Porque ele tinha plena consciência de que passaria.
Em sua nova casa não havia nenhum atrativo. Sem televisão (sorte ?), sem seus livros que um dia iria buscar, sem nem mesmo uma cama, somente um colchão velho jogado no chão. Mas ele não se importava. passava o tempo que tinha procurando emprego em qualquer lugar e quando tudo fechava ia para a Beira Mar andar, sentir o cheiro do mar e deixar que a brisa agradável da baia secassem suas lágrimas. Como podia alguém ser tão preso as suas origens ? Faziam dois meses já, e as lágrima continuavam a brotar de sua face com as menores das lembranças. Talvez uma dose de alguma coisa ajudasse, mas o medo de se meter em confusão em um lugar tão distante de casa o impedia. Mas sua casa estava ali, a algumas quadras, como poderia estar distante ?

O tempo passou. Carlos aprendeu coisas que somente a distância da vida permitem. Conseguiu um emprego, que comemorou tomando uma taça de vinho branco com pizza. Não era nada especial: um emprego de seis horas em uma loja no centro, perto de sua casa (?) e com um salário razoável. Durou no emprego seis meses. Foi o suficiente. Depois daquela última noite percebeu o que realmente lhe era importante.
Uma senhora entrou na loja com a neta ( devia ter oque ? vinte, vinte dois anos ?) para comprar um livro para dar de presente. Tinha tantos, mas Carlos se viu escolhendo Cem Anos de Solidão. Era um dos primeiros livros "cabeça" que ele havia lido. Sua família inteira havia lido. Até seu pai, mesmo não tendo gostado, leu inteiro, com letra pequena e tudo.
Carlos sentia falta daquilo, desse negócio de família. Florianópolis era ótimo, morar lá, sozinho, tinha seus prós e contras. O pensamento da morte tinha ficado para trás mas o sentimento de perda da família, daquilo que sempre lhe foi uma identidade, continuava.
Despediu-se da senhora com a neta, foi até a gerente e anunciou: estou indo para casa.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Aulas de Ginástica

Era um dia chuvoso, não o ideal para usar roupas novas, mas ele iria encontra-la. Ela não sabia disso. Atravessou a praça do Japão, evitando as poças que estragariam seu sapato novo de camurça. Sua camisa de setim preta estava molhada na manga esquerda onde o guarda chuva estragado não conseguia proteger.
O ônibus demorou um pouco, não mais que o habitual e veio cheio, como sempre. Encostado em uma das sanfonas começou a pensar nela. Seu nome era Mariana e eles se conheceram ainda no colégio. Estudavam em salas diferentes mas a ginástica era no mesmo horário. Como ambos tinham uma certa aversão (terror ?) a qualquer atividade física, conseguiam, com certa dificuldade, diverso atestados dizendo das impossibilidades de praticarem esporte naquele dia. Justamente no dia da ginástica. Ficavam sentados no canto da quadra, assistindo os outros jogarem algum esporte. Eventualmente Marcos levava seu discman e um dia ela pediu para ouvir junto. Foi assim que se falaram pela primeira vez.
Ela também gostava de Pink Floyd, que era o que eles ouviram aquele dia e desde então ele começou a trazer diversos CD´s da banda para agradar. E agradou. A antes tão odiada aula de ginástica passou a ser aguardada com euforia pelos dois. Claro que poderiam conversar nos intervalos mas de certa forma estragaria o momento mágico daquelas duas horas que passavam sozinhos.
O professor de educação física, que não era nenhum idiota, percebeu logo de começo que aqueles atestados não eram verdadeiros e deixou até mesmo de exigi-los. Pensava em obrigá-los a fazer os exercício como todos os outros mas a diretora pediu que ele não o fizesse. Aqueles dois eram amigos agora e ela sabia o quanto aquilo era importante para eles, afinal, eram os dois "solitários" do colégio. Tinham colegas, não amigos, e juntavam-se ao bando única e exclusivamente para parecerem normais.
E assim, sem se preocuparem com as aulas e com o aval de diretora para conversarem durante as duas horas de aula, deu-se início uma grande amizade. No começo a canversa tinha um teor de ódio, amargura talvez. Falavam do quando aquilo era ridículo, aquele colégio e tudo mais. De como se sentiam acuados pelos colegas, e professores, e matérias, e trabalhos. Com o tempo passaram a se focar no que gostavam e o clima amenisou. Falavam de bandas, traziam sempre um CD de uma banda diferente para mostrar para o outro.
Aquela amizade começou a mudar a visão deles de colégio, da vida, das pessoas. Cada um começou a tornar um colega preferido em amigo e aos poucos passavam a, de fato, pertencer ao grupo. A diretora ficou orgulhosa.
O ano acabou e no ano seguinte, segundo ano do ensino médio, eles conseguiram se matricular na mesma sala. As coisa deslancharam de aí em diante. Era como uma flor desabrochando. De intrusos, passaram a ser líderes dos grupinhos, ouso até dizer "populares". Como as coisas estavam melhores para ele, o professor de ginástica passou a exigir a participação dos dois nas aulas. Eles nem se importavam. Tinham tempo de sobra juntos, durante as aulas e até mesmo depois.
Foi um pouco antes das férias de julho que o pai de mariana foi transferido. É de se imaginar o choro dela e o sofrimento calado dele. Ela pensou em ficar mas sua mãe, um tanto possessiva nem quis ouvir a respeito. Os dois estavam miseráveis. No dia da partida ele foi até o aeroporto. Tinha ido até lá algumas vezes mas nunca com os olhos marejados. Desta vez não seria um passeio agradável. Uma multidão de gente havia ido se despedir da família. Marcos até levou uns amigos próximos dos dois com ele.
Foi só um pouco antes do embarque que os dois trocaram o primeiro beijo. Ela levou ele até um canto, lhe entregou uma carta e o beijo veio naturalmente, com um atraso de quase um ano. Ambos choravam e as lágrimas, ligeiramente salgada, deram um toque especial à despedida.
Por um tempo ainda se conversavam por email. Telefone raramente. Ambos cairam na antiga clausura, odiando as aulas, as amizades. Mas durou pouco. Nenhum deles queria voltar ao que foram um dia.
No sexto mês separados já não conversavam tanto. Cada um tinha feito novas amizades e estavam tocando a vida de algum jeito. Ela começou a namorar um cara, o que causou um desespero em Marcos que durou semanas e, a partir de então, praticamente pararam de se falar.
Neste dia chuvoso de hoje Marcos ia ao aeroporto mais uma vez. Dois dias antes haviam ligado para sua casa, era o pai de Mariana. Sua voz estava rouca, choro engasgado, e ele falou, de forma bastante cerimoniosa, da desgraça que se abatera em sua vida. Mariana havia morrido de meningite, dessas bem graves. Não houve tempo para despedidas. O corpo chegaria no aeroporto em dois dias e seria enterrado em Curitiba, onde morava o resto da família e para onde eles voltariam na semana que vem, devido a uma nova transferência.
Foi um choque terrível e Marcos colocou todo seu sofrimento em forma de rancor contra Mariana. Porque ela não havia falado da transferência ? Porque não ficou quando seus pais mudaram ? Talvez se tivesse sido mais forte as coisas seriam diferentes e eles teriam ficado juntos.
O pai de Mariana fazia questão da presença de Marcos no aeroporto e ele, mesmo sem carona pegou um ônibus em um dia chuvoso para ir até lá. Chegando ao aeroporto o Seu João lhe entregou um embrulho fechado onde haviam dúzias de escritos de Mariana para Marcos. Aquela foi a gota d´agua. Ele sentou no chão para não cair. João se abaixou e abraçou o rapaz e os dois choraram juntos. Foi um choro sofrido, que durou um bom tempo. Depois se recomporam e se sentiram estranhamente mais calmos.
Desta vez ele não pode fazer nada mas sabia que um dia a havia salvo, assim como ela um dia o salvou. O velório, o enterro foi sofrido e no final Marcos voltou, debaixo de um dia nebuloso mas sem chuva, para os escritos de sua grande amiga.

terça-feira, 17 de março de 2009

A Última Noite

Fazia frio e a lua, quase cheia, refletia em seus olhos marejados e nas eventuais lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Aquele era um sentimento novo. Nunca foi de chorar exceto quando criança e nunca de sofrimento. Aquela sensação lhe arrebatava. Como se os olhos, essas eternas mentes pensantes, soubessem o que estava prestes a aocontecer e precisassem de alguma forma agir.
Tomou mais um trago de Velho barreiro disfarçado em garrafa de água e foi para a beira do terraço em que estava. Então é assim que vai acontecer ? Não, não podia ser assim. Tinha de se despedir de seu eterno amigo, aquele que nunca cobrou explicações, sempre aceitou tudo sem interferência, o papel em branco. Tirou de sua mochila um pequeno bloco de notas e pensou no que escrever. Porque agora sentia urgência de escrever em forma de poema, sendo que nunca foi exatamente um apreciador de poemas ? Nunca conseguiu entende-los em suas métricas e rimas.
Decidiu que apenas prosa servia. A essa altura uma nuvem carregada cobria a lua. Sentou-se em uma cadeira e começou a escrever. As idéias fluiam, a caneta não parava. Em dez minutos terminava sua carta de despedida. As lágrimas agora corriam fácil e alguns dos clientes daquele café olhavam com curiosidade (pena ?) para aquele rapaz totalmente perdido em seu mundo.
Ele tirou uma pequena caixa que havia comprado na farmácia e, com toda tranquilidade do mundo, para não se cortar, tirou uma lámina da caixinha. Preparou um pequeno "cabo" de guardanapo para proteger seus dedos da lâmina e começou a cortar os braços, principalmente o pulso. As pessoas a sua volta levantavam, com medo e se afastavam. Ele largou a lâmina e com a mão boa deu mais uma tragada no cigarro, manchando-o de sangue. Depois de um tempo, quando chegou um segurança do shopping as pessoas começaram a chegar mais perto. Alguém tirou a camisa para fazer um torniquete e proteger seu braço, mas ele se levantou antes e foi em direção da mureta do terraço. Uma perna já estava do lado de fora quando um segurança franzino puxou-o para dentro. O desespero era total. Mulheres choravam e homens colocavam a mão na cabeça sem saber o que fazer. Uma leva de seguranças chegaram para ajudar e na briga contra o suicída, uma mesa, aquela mesma em que ele sentava, foi derrubada. Seu escrito final voou alguns metros e ficou perdido naquela bagunça para a eternidade.
A âmbulancia chegou quando o homem estava mais calmo, meio desmaiado, sem força para agir. Em vinte minutos estavam no hospital. Tudo ficaria bem.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Insanity, please go away!

I got a glimpsy of you today. It´s been a while. I could almost feel you touching me. If i concentrade hard i can feel you right now. Do you remenber when we spend all those years together ? You made me miserable. You still do sometimes. Like today. It may sound umbeliveble but i miss you sometimes. Don´t get me wrong, it was amazing when you left, but you marked me. I am what I am because of you, and I hate you for that. But i still miss you sometimes and you are welcomed to visit, like you did six months ago and are doing now. Just don´t stay too long. Not this time. Someday things will get complicated and I will have to scape in the worst way. So please don´t stay long. Not now, not ever.