terça-feira, 11 de novembro de 2008

Bendito Copo

Eu costumo comprar refrigerante em lata. O problema delas é que não vem em grande quantidade como o refrigerante grande do Mc Donald´s, e em se tratando de quantidade de refrigerante eu sempre tendo a escolher a maior. Naquele fatídico dia eu optei pelo maior, um copo grande de um refrigerante de cola, e subi para o terraço do shopping. Em dias quentes como aquele nem o ar condicionado industrial da conta do recado e nada melhor que uma breve brisa, mesmo que seja cercada pelo cheiro do cigarro dos fumantes que se vêem presos àquele único terraço.
Todas as mesas estavam ocupadas. Não só as mesas como também os espaços e o único lugar vago era na beira do terraço. Lá fui eu, entre encontrões naquele amontoado de pessoas e o odor de diferentes cigarros. Como aquelas pessoas não estavam lá pela brisa tive sorte de ficar em um lugar onde ela batia com voracidade, mas não tinha onde por o refrigerante. Sobrou apenas o parapeito do terraço, e lá eu pus. Não o teria feito se soubesse desse terrível hábito dos copos de refrigerante que tem como natureza pular de lugares altos, problema que eu não enfrentaria com as latas. E eu estava em um lugar alto.
O copo foi caindo pelo telhado mas a tampa, que geralmente se solta em nossa mão quando não deve, corajosamente se manteu presa ao copo até onde não pude ver mais. Fiquei apenas imaginando o copo dando inúmeras piruetas pelo ar até encontrar alguém que estaria passando nesse momento (sempre tem pessoas passando em momentos como esse) e sendo atingida por um copo que devido a coragem da tampa estaria completamente cheio.
Todos ao redor olharam. Naquele momento odiei todos aqueles fumantes por terem visto a queda e ainda por cima me olharem com aquele olhar risonho como se fosse minha culpa e não do copo. Como desejei que estivesse sozinho e pudesse fazer uma fuga pelo shopping deixando de lado o fato de que alguém estaria molhado lá em baixo por culpa do meu copo. Malditos fumantes!
Desci as escadas apressado. Apressado e com medo pois não fazia idéia de quem teria sido atingido. Poderia tanto ser uma criança inofensiva, que as essas alturas estaria chorando com algum segurança a lhe consolar, como poderia ser um homem de dois metros de altura que tem como hobby o péssimo habito de freqüentar academias, mas com certeza teria alguém.
Sai pela frente do shopping e dei a volta até os fundos onde imaginava que o copo havia feito sua fenomenal queda. E lá estava ele, a uma distância de dois metros de uma moça que com um lenço secava as pernas com um segurança a lhe ajudar. Apesar do susto, do refrigerante doce que junto com o suor de um dia quente lambuzava suas pernas, ela sorria. Talvez por ter tido a sorte de estar dois metros a direta do incidente.

Seu sorriso não era dos mais lindos. Nem se vestia como uma princesa, a não ser que elas agora trabalhassem como executivas para ajudar na renda familiar. Mas tinha algo nela que me chamou a atenção. Não só a minha como a do copo também que eu tenho quase certeza se jogou por ela. O que pensariam os fumantes do terraço se pudessem ler meus pensamentos naquele momento, pensamentos que não eram de desculpas e sim de galanteio? E se soubessem que eu pretenderia culpar um deles, que seria o suposto dono do copo e que eu seria o gentil cavalheiro que descera no lugar do ingrato que não se importava com pessoas? Danem-se aqueles fumantes! Era meu direito. Todos tem momentos ruins mas só os bravos e astutos tornam isso uma oportunidade. E a oportunidade estava ali, coube a mim agarra-la
O nome dela era Carla. Conversamos pouco tempo, coisas fúteis, conversa fiada. Falei do quando o dono do copo riu da hipótese de ter acertado alguém e conversamos sobre em que ponto se encontrava a humanidade. Ela sorriu algumas vezes mas estava atrasada para o serviço. Em nenhum momento surgiu a oportunidade de uma troca de telefones, até porque tais oportunidades vem com a coragem e essa falhou. Me despedi com a promessa de recriminar a podridão da natureza humana, representada por aquele fumante do terraço.Vi ela partir, juntei o copo da calçada e fui em busca de um lugar mais seguro para tomar uma brisa.

Um comentário:

Anônimo disse...

esse texto está adorável!
te mando revisado o outro amanhã, tá?
beijos da barb