terça-feira, 23 de setembro de 2008

A Primeira Cigarrilha

Seu planos costumavam falhar. As coisas mais simples até davam certo mas qualquer coisa mais elaborada, sofisticada, falhava. Ainda mais se envolvia manter algo em segredo ou por ser algo "errado" de se fazer. Portanto, este estava fadado a não dar certo.
Neste dia, cheio de entusiasmo, ele pegou sua mochila e foi em direção ao shopping. Ônibus lotado, calor infernal, nada tirava sua determinação e concentração. Não percebia as pessoas ao seu redor e a única coisa, fora o plano, que passava por sua cabeça era um copo de café. "O maior que tiver, preto, copo descartável"
Chegando no shopping foi direto para o Café. Era um desses bem chique que servia todos os tipos de café, quente, gelado, além de uma imensa variedade de salgado e doces. Incluseve cigarrilhas.

- Moça, que sabor de cigarrilha você tem ?
- Só estes três que estão à mostra.
- E quanto é cada carteira ?
- Seis reais ?
- Seis reais ? Mas eu só tenho quatro e cinquenta.
- Dá para comprar um desses cigarros com sabor. Tá três reais.
- Não serve. Têm cigarrilha avulsa ?
- Um real cada.
- Vou ficar com duas.
- Qual delas ?
- Qual vende mais ?

Pegou as duas cigarrilhas que a moça lhe deu, comprou uma caixa de fósforo e um café.
- Me dá um café, o maior que tiver, preto, copo descartável.
Sentou à mesa, abriu seu caderno em uma página em branco. Se concentrou um pouco, parecia não acreditar que estava dando certo. Acendeu a cigarrilha com muito estilo e deu uma tragada. Seus olhos brilhavam com um misto de alegria e enjôo. Não estava acostumado a fumar. Tomou um gole de café e esperou. Continuou fumando e bebendo seu café. Nada. A página em branco parecia desafia-lo.
A cigarrilha acabou e ele acendeu outra. O café estava gelado mas ele estava economizando pois não tinha dinheiro para outro.
Lá fora o calor estava mais baixo, o sol já não cegava mais os olhos e as coisas pareciam mais calmas.
Era inútil insistir. Ele guardou o caderno com a folha ainda em branco, jogou fora o copo descartável do café e foi pegar mais um ônibus lotado a caminho de casa.

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